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Delegacia do Município em Ribeirão Preto

A regressão da Polícia Civil em Ribeirão Preto

Neste dia 03 de janeiro de 2022, a Polícia Civil em Ribeirão Preto deu um salto negativo. Regrediu no tempo mais de meio século. Por conta de um famigerado projeto de “Reengenharia”, hoje todos os oito DPs (Distritos Policiais) foram juntados num único prédio.

Ingressei na Polícia Civil em 1974. Naquela época, há 48 anos, já havia três delegacias atendendo a população. A cidade tinha, naquela época, pouco mais de 200 mil habitantes. Incluindo os dois distritos: Bonfim Paulista e Guatapará.

Hoje, Guatapará é uma cidade emancipada há vários anos. E a população de Ribeirão Preto, onde Bonfim Paulista praticamente tornou-se bairro diante do crescimento urbano, supera os 700 mil habitantes. Ou seja, Ribeirão Preto tem 500 mil habitantes a mais que em 1974. E tem duas delegacias a menos do que havia naquela época.

Não venham nos dizer que a cidade reuniu todos os DPs num único prédio. Não é verdade. As oito delegacias já funcionavam de forma capenga, com número muito abaixo do necessário para prestar atendimento a contento.

Os colegas da ativa estão extremamente sobrecarregados. Chega a ser uma situação desumana a enfrentada pelos colegas, com inquéritos surgindo a todo momento e eles tendo que dar conta de tudo sem ter delegado, sem ter investigador e sem ter escrivão em número mínimo necessário – isso sem falar das demais carreiras, todas defasadas.

Pois o governo insistiu nessa insanidade. Primeiro tirou cinco delegacias dos bairros, fazendo um ajuntamento em três CPJs (Centrais de Polícia Judiciária), além do Plantão permanente na Rua Duque de Caxias. Agora tira as três e junta todas as oito (apenas na teoria), num único prédio.

O pior disso tudo é o local escolhido. Primeiro por ser uma área com pouquíssima densidade habitacional. Na Avenida Independência, região do Boulevard, pouquíssimas casas daquela área são utilizadas de forma residencial. A grande maioria das casas são comércios ou prestadores de serviço.

Outro ponto extremamente negativo: o local está no chamado “olho do furacão”, dois polos de obras. Em frente ao prédio está tendo a morosidade da obra do corredor de ônibus, que será em frente ao prédio e, a cada semana, novas interdições na área. Para piorar ainda mais, está a poucos metros da obra do túnel que irá ligar a Avenida Independência à Avenida Presidente Vargas, passando por sob a Avenida Nove de Julho. Uma obra que deve durar, pelo menos, mais uns dois anos e já teve várias paralisações, a ponto de a prefeitura chamar nova licitação.

O prédio tem um pequeno estacionamento, mas seu entorno não tem muitas vagas disponíveis. Sequer para os policiais civis, quanto mais para a população que deverá recorrer ao local.
Assim, obviamente, numa cidade com mais de 700 mil habitantes e com apenas a Delegacia do Município – porque é isso o que aquela instalação vai representar, na prática -, a população ficará desassistida. Primeiro porque o acesso de muitos bairros até lá vai requerer, pelo menos, o uso de dois ônibus. Ou tentar registrar a ocorrência pela Internet, o que, convenhamos, vai causar grande dificuldade para boa parte da população que mora em bairros menos abastados financeiramente.

Ou seja: a criminalidade vai cair não por conta da ação eficiente do governo estadual, mas, na verdade, porque muita gente vai desistir de registrar uma ocorrência, pela dificuldade que isso vai representar.

O descrédito na Instituição vai aumentar ainda mais. Até porque, com número insuficiente, fica impossível prestar um atendimento à altura do esperado, elucidando todos os casos e buscando punição para todos os envolvidos.

E isso é algo que não adiante culpar a chefia regional. A ideia vem de cima. Vem, mais especificamente, da principal cadeira do Palácio dos Bandeirantes. Veio da cabeça de Geraldo Alckmin e foi “aprimorada” pelo sadismo do governador João Doria Jr., que não esconde seu desprezo para com os policiais civis.

No final de 2021, conversava com o delegado aposentado, dr. José Luís de Meirelles Júnior e ele ilustrou bem a questão. Usando a analogia feita pelo colega delegado, imagine como a população reagiria se tirassem todas as escolas dos bairros e centralizassem num único prédio, no centro ou, ainda, numa região menos acessível. Ou ainda, se tirassem todas as unidades de saúde e centralizassem tudo num único prédio.

Pois é exatamente o que estão fazendo com a Polícia Civil. A reação não deve ser diferente por parte da população. O que causa estranheza é o fato das autoridades constituídas, como o prefeito Antônio Duarte Nogueira Júnior e todos os demais vereadores, praticamente se calarem diante desta insanidade.

O Sinpol vai acompanhar os desdobramentos desta mudança e vamos denunciar tudo o que estão fazendo. Vamos cobrar as autoridades regionais e também a cúpula da Delegacia Geral de Polícia, da Secretaria de Segurança Pública e o governo do Estado. Mas só o Sinpol não será suficiente para mudar essa situação. Portanto, contamos com todos os policiais civis e familiares, para divulgarem essa atrocidade, essa regressão que estão impondo à Polícia Civil em Ribeirão Preto e em muitas outras cidades do Estado.

Célio Antônio Santiago, presidente do Sinpol

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